sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Viver é sempre mais

    Algo está próximo, eu sinto. Algo no vento e em frente ao espelho hoje pela manhã. Algo na fumaça saindo da xícara de café, nos ponteiros pesados que arrastam as horas dentro do relógio na parede, nas palavras banais que pairam sonolentas no ar e na água que corre da torneira, pelos canos, nos rios seguindo rumo a lugar nenhum. Algo circulando em todo lugar por onde andei como se estivesse segurando minha mão. Estou aqui esperando se ainda quiser escutar meia dúzia de frases minhas, poderia te dizer por onde foi que andei e o que fiz, no quanto pensei e ainda penso em coisas que desejo esquecer e em você. O mundo está tão diferente de quando adormeci na última noite, eu sinto e precisava te contar. Sei que ainda não conseguimos explicar tudo sem escapar daquelas velhas e enferrujadas explicações científicas, mitológicas, religiosas que muito interessam aos bocejos somente. Mas não quero falar de nada disso, pois o tempo voa e está retratado em cada instante onde podemos arriscar este meio sorriso, assim como agora ou perdê-lo. A vida é sempre mais. Então vamos começar pelo princípio e esquecer o que nos cerca para permitir a insanidade beijar nossos olhos por alguns segundos. Não pense tanto em fugir, estarei por perto, mesmo quando os pesadelos começarem e tudo que sentir for medo. Larga esse teu hábito de exigir da razão para evitar as tantas quedas da vida. Não tranque a porta do teu coração para os sentimentos que você é incapaz de controlar e tenta perceber que não pode ser tão ruim assim trocar as grades que aprisionam teu mundo pelo desconhecido rumo do amar. Essas lembranças pesadas que carrega contigo estão te machucando demais e ficam impregnadas naquele gosto amargo de derrota que sente todas as manhãs ao sair da cama. Acenda um fósforo, vamos incendiá-las e assistir enquanto queimam e te libertam. Livre-se do que te faz mal e deixe que todos os fantasmas trancados dentro do teu armário vão embora. Me ouça e não esqueça que nem tudo sei, mas o que sei quero te mostrar e o que tenho quero te oferecer. Se há pegadas, o mar vai levar com ele. Se há sombras, os raios solares dissipam com a claridade. Se há cinzas de um passado que não passa, o vento irá soprar pra longe daqui. Diga alguma coisa que me faça querer respirar de novo e coloque apenas um instante dos teus olhos sobre mim. Senta ao meu lado enquanto a noite dorme encobrindo o silêncio e observa o espaço infinito entre as estrelas no reflexo das águas. Viver não é fácil nessa dura exigência de domínio de si mesmo, harmonia dos sentidos, busca de equilíbrio na fusão dos pensamentos mais insanos, mas essa solidão que cresce junto aos segredos já devorou metade de nossos sonhos e lutamos tanto para ser igual aos outros todos, não funcionou. Você sabe que não. Há algo a mais no ar, na água, no fogo que me cerca junto de ti. Sei que vai dizer que palavras não te servem pra nada, mas não ousarei explicar esse vazio que persiste no peito e às vezes sufoca em nós. Apenas irei dizer o quanto tua falta me dói na metade de mim que restou e jamais me bastou. Aqui no meio do mundo, onde espero e ainda há algo em todas as horas, e o amar esteve ali não conjugado e aprisionado num capítulo que jamais se encerra dentro de um coração aflito de saber que ninguém quer realmente estar só nessa vida. Pois viver é sempre mais.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ela, lado oposto de espelho quebrado


Ela é quase mistério indefinido de sujeito oculto entre pensamentos indeterminados, sonho indecifrável, rio subterrâneo, lado oposto de espelho quebrado.
      Ela quase abre aqueles olhos brilhantes pela manhã ao acordar como em tantas outras manhãs de primavera com os raios invadindo as frestas da janela que já pensou em consertar. Estica os braços como quem implora um abraço ao ar gelado que inspira profundamente, vindo da grama úmida do quintal lá fora. Nada em especial, mas ela não se deixa enganar pelo som dos pássaros, nem pela cidade, nem pelas cores e nem pelas vozes. Ela quase sorri meio torto, meio impreciso, meio livre entre os outros tantos que insistem a circular pelas calçadas moldados, rotulados, acorrentados ao passar das horas, sem notar o tempo correndo solto em disparado ao lado e a vida indo embora para se atirar em outras direções, outras ilusões, outras dimensões. Ela quase sente pena deles, mas está submersa profundo demais em meio aos pensamentos inesperados que inundaram seus sonhos na última noite, desconstruindo partes de seu mundo inacabado e secreto. Ela quase estica a mão para alcançar as respostas que flutuam como folhas secas dançando na sua frente, mas distanciam-se teimosas ao tentar toca-las. Acaba por contentar-se em observar a coreografia de cada uma subindo pelas nuvens densas e claras que vão se arrastando pelo céu. De repente, ela quase permite as palavras tão guardadas escorrerem de sua boca enquanto procura rapidamente na memória algum assunto banal capaz de quebrar a tortura do silêncio que monta rápido um imenso muro de pedras entre nós, mas essas ainda não, ela pensa, quase soltas, ela puxa de volta num golpe imaginário certeiro para o canto escuro do pensamento e só se entrega num relance em segundos de olhar que ao encontrar meus olhos se dissipa num espaço perdido do tempo. Ela quase voa em madrugadas abafadas, onde o quarto fica coberto de versos que atiro sem que saiba, mas insiste em não querer decifrar e apenas nadar entre seus mares desconcertantes de ilusões. Meu bem, deixa estar, já é quase de manhã outra vez e sei bem que irá esconder lá no fundo do peito, onde se aperta aquele desejo incansável de esperar que as coisas logo cheguem, logo melhorem, logo mudem, logo passem..

sábado, 5 de novembro de 2011

No labirinto desse pesado viver de todos nós


Que pesado esse viver sobre cinzas, cortes, penas, pétalas despedaçadas, rasgos, vírgulas de frases intermináveis. Parece não caber mais em mim esse conto sem final. Neste labirinto de questões mal-resolvidas, infinitas, esquecidas, não estamos sozinhos. Não é apenas nós procurando em últimos vestígios o que restou de nossa identidade. Ainda ouço a harmonia sonora das tuas palavras, mas não consigo mais decodificar seus segredos quase indistintos. Escute quando eu falar que minha vida contida não era vida de verdade até o encontrar da tua vida vazia naquele lugar. E dos teus sonhos fiz meus sonhos e dezenas de outros planos que assisto agora em pedaços se desfazer sobre as águas calmas de o misterioso pensar. Lá, onde o brilho intenso do teu olhar queima ainda minhas lágrimas pelo fogo refletido da tua alma. Se hoje eu cair na tua frente e não conseguir levantar, leve pra longe daqui todas as nossas memórias. Pois não há luz aqui no fundo dos meus dias mais inacabáveis e chuvosos. A parte que não encontro mais de mim ainda existe em você? Tento encontrar abrigo seguro dentro da solidão, mas algo continua morrendo aqui dentro cada vez que me sinto assim. Mais algumas horas e não me chame amanhã pela manhã, estou perdida dentro desse labirinto do pesado viver de todos nós. Esse drama de constante sofrer vem adoecendo a vida que ainda resta pra nós e nunca parece o bastante para ir embora. Você não precisa de mim como eu preciso. Não quer o que eu quero. Não enxerga as coisas que eu vejo e me assustam. Aquele meio de mim que corta e aquele que é cortado, lavando o chão da consciência de sonhos perdidos e despedaçados. 

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Por favor, alguém me traga um pouco de silêncio sem gelo

Por favor, alguém me traga um pouco de silêncio em comprimidos e sem gelo, pois  realmente estou dispensando as palavras. Meios gritos. Meios sussurros. Meios versos, todos tortos, quase calados e famintos. Não toque em nada, deixa tudo assim no lugar até alguém aparecer, testemunhar e desconstruir enquanto não estiver vendo. De mim, pode levar tudo que quiser, eu não preciso de todo esse ar sufocado de tanto sentir. Lembranças exaustas e gastas que escondi até mesmo de mim. Sendo assim, não há muito mais que possa ser feito. Deixa que chova todas as nuvens negras que andaram pesando sobre nossos ombros até agora. Deixa que caiam e te invadam até a hora de desaparecerem e o calmar de inundar de paz. As gotas estão escorrendo doces pela minha pele enquanto permaneço estática no mesmo lugar onde você me jogou. Não somos mais iguais. O tempo nos venceu. E as palavras estão todas caindo lá fora pelo telhado e eu sei bem que não precisa mais de nada além daquelas velhas farsas que contornam teu mundo distante daqui. Segue o rumo que te conforta e alivia esse teu pesado   sofrer. Pois quando me calo dentro de mim, enxergo tudo de outra órbita que não gira sem sair do lugar e assim vive a girar. Não irei explicar. Não irás entender. Deixa assim como está, pois as pausas agora nos parecem tão desconfortáveis e dolorosas como sapatos apertados. É hora de dar uma folga para os pés descalços e andar pisando sombras em grama molhada. Procurando cogumelos que acabaram de nascer. Reconstruindo essência na harmonia do viver apenas por viver. Demorei para compreender a tua agonia de desejos imediatos e voláteis que não consigo tocar e das minhas insanas e irônicas fantasias que você não consegue distinguir. Não é assim, eu sei. Fácil é olhar no olho de alguém, difícil é desvendar um coração em mosaico. 

quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Pensamentos submarinos


Esperando durante tantas horas, olhos fixos em frente à folha de papel em branco. Pois existem frases que precisam desesperadamente nascer antes de morrerem no parto, antes de sufocarem na amargura do esquecimento. Pensamentos submarinos agonizando no fundo do peito...

     Eu não quis ficar no mesmo lugar que você. Eu não vi o mundo parar pra eu descer. Cansei de ser o segundo que não te toca. Ser o verso solto de qualquer nota. Ser o silêncio entre as palavras tortas. Ser toda sombra que já nem te importa. Ser lua nova que nada irradia a sua volta. Ser submarino afundando no mar das lembranças. Nem tente lembrar-se de tudo que um dia passou. Entrei na tua casa de madrugada. Sentei na tua cama embriagada de angústias. Te ouvi dizer era tarde demais  e só  me restava partir. Andei em desequilíbrio pelos telhados e em cima da tua mesa. Eu não tinha mais pra onde ir. Risquei nas paredes pelos corredores do teu rumo pra ninguém mais te ter. Chorando lua nova sobre tuas velhas cartas. Fui submarino mergulhado no fundo pra ninguém mais me ver. Afundando devagar no mar das lembranças. Nem tente lembrar. Não ouse parar de andar agora naquilo que já passou. Eu não quis ficar no mesmo lugar de você. Me cortei com a tua fala. Naufraguei por tua causa. Deslizando sobre as algas. Sou submarino a descer entre o limite da sanidade e da paz perdida entre as pedras do pesar. Cada vez mais distante da superfície, vou ficando assim sem ar. No fundo, vejo refletindo nos pedaços de vidro de nossa janela, pequenos fragmentos de raios brilhantes de vida resistindo em passar. As mudanças que apenas trocam as coisas de lugar.

sábado, 1 de outubro de 2011

Nada pode mudar o que sinto

Nada pode mudar o que sinto, eu sei. Ainda guardo dentro de pensamentos subterrâneos em profundidade cada vez maior, os tormentos que não posso controlar. Escuto seus gritos à noite. Chegando mais e mais perto o sussurro da certeza de que não sou capaz de controlar tudo durante todo tempo. Ando no limite que corta aquilo que sou do que sinto. Cada passo me parece uma chance de cair e não saber o caminho de volta. A incerteza de não aprender a levantar e permanecer em uma queda eterna segue a me rondar. Meus pés tocam as pedras frias da desesperança na beira desse abismo de dualidades. Minhas últimas palavras lavam as pegadas deixadas de um passado perdido em esquecimento. Nada pode mudar o que sinto, eu sei. Esse meu coração cercado de rosas repletas de espinhos e ainda estou sangrando, pois não descobri a maneira de tirá-lo dali. Dias morrendo e nascendo diante minha espera, como se dissessem algo que ainda não consigo compreender ou ouvir. Os lábios se movem, mas não ouço uma palavra sequer. Se ao menos a escuridão desse lugar me trouxesse proteção. Todos estes vazios que permitem as sombras invadirem os cantos e demorarem horas para irem embora. Elas não me ferem mais da forma como a memória tenta me assombrar, mas me consomem agora que a solidão não me aprisiona mais. De alguma forma, sei que existe o outro lado em algum lugar onde tudo poderá mudar. Você pode me ouvir? Me abrace onde quer que esteja e me deixe ficar, eu estou esperando sem a companhia da esperança que não é mais minha aliada inseparável, mas ainda sei viver. Nada pode mudar o que sinto. Meus versos de amor estão chovendo e molham seu rosto, pois estão onde eu queria estar. Traga aquele teu sorriso que guarda dentro dos olhos e me diga que estive na fuga dos teus passos, mas estou aqui. Não seria mais capaz de apagar as marcas que teu sorriso sempre deixam em mim, são cicatrizes que não desaparecem com o tempo. Nada pode mudar o que sinto. Fecho os olhos quando a dor é demais, mas eu volto a abri-los. Um dia a face da moeda muda, o jogo vira, a estrada chega na encruzilhada. Todo sonho e todo pesadelo tem seu fim, eu estive perdida, mas estou construindo meu próprio caminho agora. Nada muda o que sinto, mas os pensamentos subterrâneos estão afundando e não posso ficar para desmoronar junto com eles..

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Nem tente olhar pra trás


E nem tente olhar pra trás nesse momento.
Buscando minhas pegadas, minhas palavras.
Enxerguei de perto a imensidão do meu tormento.
Engoli cada falso sorriso em um manto de desespero.
Eu parti antes de assistir minha última noite morrer.
Fugi das tuas suplicas mudas antes de por elas enlouquecer.
E nem adianta por um segundo desejar minha presença.
Minha falta não te toca. Não te joga na dor da ausência.
Cansei de tentar encaixar minha vida em teus rascunhos.
Desenhar minha rota em teus perdidos confusos caminhos.
Estive sentada na beira da tua estrada. Esperando só por horas.
Contemplando o silêncio. Sufocando meus sentimentos.
Ouça! Não pronuncie nem sequer uma palavra agora.
Pois sabemos que elas pra você não significam nada.
E logo nada disso a sua volta irá importar.
Tudo tem andado mesmo fora do lugar.
Jogados no ar como pássaros no infinito.
Invisíveis como teus pensamentos esquecidos.
A solidão te persegue por todos os cantos do mundo.
Tua vida permanece paralisada em meio ao caos profundo.
Odeio imaginar a dor que te atirou nessa escuridão vazia.
Arrastando teus dias em uma permanente melancolia.
Mas meus passos me afastam de você. Mesmo em desespero, optei por viver.
E quando o sol beijar tua pele e iluminar teu sofrimento.
Minhas lágrimas irão lavar tuas pegadas sem mais medo.
O mar irá levar embora as cicatrizes do velho passado.
Dançarei sorrindo e sozinha na coreografia livre do vento.
Então, minha alma ferida, quase apagada, terá se encontrado..

sábado, 10 de setembro de 2011

Tenho um copo 1/2 vazio por dentro


Tenho um copo quase vazio por dentro. E o copo está se esvaziando cada vez mais rápido, mais letal, mais frio. Você lembra? De quando a gente não entendia a razão de o amor nunca bastar e as pessoas se afastarem em rumos opostos, em ventos trocados, em tempos distantes. Pois é, quem diria. Mas hoje, levantou um sol tão brilhante e veio junto com todas aquelas coisas boas e leves que dizem pra tentar injetar esperança nessas veias quase apagadas. Eu ando com uma tal dor que remédios não estão dando conta por si só. Uma dor de acúmulos. Café demais. Cigarros demais. Insônia demais e álcool e solidão em excesso até. Sei que existem todas essas estradas das quais te ouvi me dizer, mas eu não sei. Tem gente que muito fala e nada diz, prefiro ficar aqui onde todos cruzam, param, fumam ou não, puxam papo ou não e depois vão. Apenas fico aqui ouvindo o que não faz sentido e pensando nos vários sentidos que não me fazem, muitas vezes, sentido algum. Ainda é muito difícil, eu te falei, e ainda não tento descrever algumas coisas de nós e as guardo em algum gaveta que mantenho trancada pra que nem mesmo eu as perca. E esse copo vazio aqui dentro. Quando se enche e, logo, vai se esvaziando, sinto que a sensação ainda é pior de quando estava vazio. Não gosto de falar sobre toda essa história de dor e sofrimento que vive em cada um de nós perdidos nesse mundo hostil. Não acha? Até pensei em te pedir pra não soltar da minha mão só enquanto finjo ver o copo ainda cheio, mas não faço e me calo. Deixa. Melhor assim ou pior ou pouco ou trágico. Mas hoje nasceu o sol e todas aquelas luzes positivas e coloridas que teimam em penetrar minhas sombras. Existe algo mais doce do que sofrer. Há sempre esse mar de possibilidades que não se quer ver e estão além da linha invisível que escurece os sentimentos em tempos difíceis. Surge esse pequeno e tímido foco de luz bem no meio do escuro do mundo e de nós e além de um copo 1/2 vazio..

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

O que é o contrário do amor?

Tudo passa. Hoje, estática diante da minha xícara de café, escutando atentamente o arrastar dos ponteiros como se empurrassem o tempo, assim sem vontade, sem pretensões ou planos maquiavélicos. Pensando na vida que há tanto esteve desenfreada como minha bicicleta após o quebrar dos freios e que, de certa forma, lembro de não ter pensando em parar e não parei, não tive medo, não me contive diante o caminho que persistia a minha frente. Quando pensei na forma de parar, nada me veio conscientemente, mas então percebi que, de certa forma, não queria parar. Não importava mais pra onde iria ou quais consequências trágicas isso me traria, óbvio. Mas continuei desenfreada como minha vida, preparada para as quedas, pronta pra continuar. Ali, naquela manhã igual a tantas outras de segunda-feira, sem nada esperar, nada prever, notei os ponteiros empurrando o tempo pelo espaço. Então, notei que o contrário do amor não poderia ser a inércia, estado de completa ausência de sentimentos, pois isso não é um sentimento e não bastaria para preencher o vazio, lugar de uso exclusivo do amor e onde apenas seu oposto poderia correspondê-lo a altura, pois já tentei tantas outras formas e nenhuma se mantem ou chega a permanecer. E mesmo sem amor, o tempo vai nos empurrando vida afora e não temos o controle definitivo da direção por não querer ir, mas sem notar, já estamos indo. Não há respostas pra isso que não leve a outro questionamento. Como se não existisse luz sem escuridão. O que é o contrário do amor? Alguns dizem ser o ódio, mas o ódio por si só não basta para contrapor o amor. E sabemos disso. E lutamos contra isso, mas é inevitável como respirar. Não existe ódio permanente de quem se ama. Então, o que existe?! Retorno a minha xícara de café já fria, procuro o casaco e saio em busca de algo que nem mesmo conheço ou espero encontrar.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Seja um passaro

Tem dias que minha paciência não tem tempo pra mim. Espalha com raiva as peças corroídas e desgovernadas de cada pensamento em torno do jardim. Perdi o rumo das coisas que pensei que possuía. Acordei de um sonho dentro de outro sonho e percebi que nada mais eu tinha. Levantei e tudo parecia longe demais. O que via não existia, apenas coexistia ao reflexo da ilusão que criei de minha própria paz. Devo contar que ontem à noite eu deitei sobre meus versos apáticos de silêncio. Sufocando pela última vez aquele vazio que persiste em meu peito. Aflita, decidi que não queria mais ser o sem rumo de mim. Abri as janelas de meus olhos e deixei toda imensidão de sombras dali fugir. Apaguei os gritos de agonia atirados nas cortinas, abraçando com calma meus vestígios de sorriso oculto no fundo da retina. E, de repente, delírios contidos começaram a entrar por debaixo da porta. Eu sabia que por mais que não enxergasse, ainda não era a hora. Eu tinha que respirar por mais que minhas forças não aceitassem o ar. Eu tinha que voar mesmo que minhas asas não saíssem do lugar. Era o medo, eu sentia. O medo que havia escurecido meus devaneios em tanto tempo tentando lutar contra o aquilo que eu já sabia. Fingia desconhecer e não reconhecer o óbvio que suplicando, me seguia. De manhã, pequenos raios de sol penetraram pelas falhas das paredes da minha alma e o vento soprou sem direção, dançando no meio das nuvens. Eu estava livre. Abri os braços me sentindo como nunca estive. Eu não era apenas a prisioneira de mim. Eu era livre..

sexta-feira, 8 de julho de 2011

''Há tempos...

...Tive um sonho, não me lembro. Não me lembro.'' Criei um mundo só meu e ele me criou. As pessoas vieram, não compreenderam e como toda ignorância pode levar ao ódio daquilo que se desconhece, elas o destruiram. Sentiram-se melhores. Continuaram suas vidas. Prepararam a cama, escovaram os dentes e foram durmir. Mas o que elas não sabiam é que eu tinha criado um mundo e ele tinha me criado. Ele foi morto por quem não o conhecia, não teve chance de defesa. Não pronunciou nem sequer uma palavra. Morreu em silêncio sem saber a causa de sua condenação e execução. Meu mundo não tinha asas, não pode voar e fugir. Não tinha pernas, não pode correr. Não tinha armas, não pode lutar. Mas ele tinha algo que as pessoas não tinham ou não queriam mais ter. Talvez fosse ultrapassado ou inútil perante a velocidade do progresso. Meu mundo tinha sonhos. Repleto de sonhos. Milhares e milhares de campos cobertos por eles. Flores de papel. Nuvens de cristal. Pedras de fogo. Luzes. Eu criei um mundo e ele me criou. Ele foi morto por quem não o conhecia e que sem saber também me matou..

domingo, 29 de maio de 2011

Queria dizer

Queria dizer que o tempo não passou e que as coisas não mudaram. Ah, as coisas, sempre mudando de forma como as pedras que enxergo pela janela enquanto o ônibus vai varrendo a estrada de tantas águas deixadas pra trás. Gostaria de recorrer a alguma fuga, pensar nas árvores, talvez. Mas as árvores foram tantas que estiveram no nosso caminho durante aquele tempo que nos pertencia e você hoje tenta negar e eu simplificar para não doer além do que já se perdeu em lágrimas tantas madrugadas passadas. Discordar seria um erro tão grave quanto tentar, de novo, em vão te dizer o que sinto. Mas saiba que não estou partindo, é apenas uma viagem de alguns dias para me distanciar dos tantos problemas que me atingem em balas disparadas sem ressaltos. São cicatrizes minhas que se lembram de existir em dias úmidos. Elas estão doendo agora. Havia me surpreendido com tamanhas ilusões que criei, mas o tempo passa, assim, sagaz e letal. Eu queria dizer que o amor basta, mas não me sinto mais tão jovem pra usar algo tão ingênuo na defesa de nós. Não vou dizer, não se preocupe. Lamento o incômodo que causei por medo. Temia o desconhecido como Alice temia adentrar as portas de seu mundo de fantasia. Temia trocar o asfalto por areias de sal e a correnteza me fazer cair. Mas percebi que não poderia cair, seria impossível, pois, na verdade, nunca levantei desde que nos afastamos. Talvez tenha sido o medo que tenha me levado a me agarrar em certezas irreais e ilusões da mesma maneira que me iludi agora. Quando ouvi de novo tua voz e olhei teus olhos em mim, nada importava mais. Nada mais fazia diferença nenhuma. Tudo seria como antes, sem jamais ter mudado. Ilusão, você dirá, eu sei. Foram os sonhos. Aqueles depois da insônia. Apenas sonhos.. Queria dizer, mas não irei. Eu não irei..

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Vestígios de Chamas

E um sorriso como um tiro me tirou daqui. E os seus segredos sujos vêem me assombrar. Minha calma está queimando ali no jardim. Você nem teve tempo de me libertar. Faz horas que sentei na frente do portão. Vigio cada passo que até pensa em dar. Talvez tua cura esteja na minha prisão. Aviso é melhor nem crer em escapar. - E quando você for me ouvir. Não julgue o meu mundo em chamas. Eu faço parte de um vulcão. Suas garras não me prendem agora. ...Teu riso só consome em mim as chamas dessa raiva.. Teu grito é melodia que não quero ouvir. Tua boca é mentira que não posso ter. Sangrando as memórias de meu quase fim. Minhas noites são insanas, nem queira saber. Joguei meu corpo dentro de agonia e dor. Em cada dose amarga de pura ilusão. Acordo todo dia e nem sei quem sou. Não vale mais minha alma nessa solidão. Mergulho no teu som. Te torno um pesadelo. Procuro redenção em meus próprios devaneios. Me afogo em teu olhar. Desafio meu controle. Espero a noite acabar e no escuro te chamo...

quinta-feira, 3 de março de 2011

Mar

Ah, mar, tão difícil observar além de sua imensidão transfigurada. Tuas cores, tuas formas, teus gestos modestos e intensos. Eu juro que não queria me sentar aqui na completa solidão absorvida dentro de meu mundo de pensamentos e segredos e te olhar. Mas esse teu brilho, não consigo explicar a maneira tão profunda que me prende os olhos e se agarra nas minhas lembranças arrastadas pelas tantas madrugadas embriagadas de silêncio. Eu antes mesmo de descer até aqui e te avistar já havia sentido ao longe tua presença. Só com um canto do olho percorri o vazio da multidão e te descobri ao perceber minha vista se atirar livre no encontro a tua imagem. E se encantar, pois isso sempre me acontece. Não importa que já tenha te visto mil e tantas vezes, essa punhalada de calor, dor e paz me atinge direto no peito, sem nenhuma possibilidade de reação e nem me atreveria mais lutar contra após tantas batalhas frustradas sei que baixei a guarda. Nessa luz que irradia da tua superfície e parece focar diretamente na minha alma de essência escura. Mas dói, sabe?, hoje até nem mencionaria um verso solto ou alguma palavra abafada como de costume, meus ouvidos estão atentos como nunca a qualquer variação de tempo e espaço que possa soar de ti. Meus passos até aqui mudaram minha direção e engoli a seco uma decisão como quem acaba de ser descoberto no bagageiro de um trem, mas estou no ápice e me atirar nos trilhos seria dádiva. Hoje talvez o vácuo que nos una se dissolva, ou não. Apenas essa confissão meio torta, meio despreparada, mas inteiramente sincera escorrendo da minha boca pra te tocar com espírito e certo ar de desejo. Dói. É estranho, além de meus olhos mais nada costuma te tocar, então entenda minhas pausas prolongadas, minhas mãos tremendo e banhadas em suor gélido. Eu andei até aqui mantendo o queixo erguido numa falsa convicção de confiança, mas me perdi em toda aquela alucinação irracional e explosão de sentimentos ao te ver. Logo, vou dizer que dói e mais nada. Quero que saiba. Vou indo embora sangrar. Se voltarei? Ainda perguntas?..

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Das chamas às cinzas

Penso nos detalhes infinitos do teu corpo percorrendo leves em dança fúnebre meus segredos e pensamentos abafados. Uma madrugada úmida, onde o ar sufoca todos os versos dentro de meu silêncio e a leveza se torna o caos dentro do escuro desse quarto vazio. Tire minhas sombras de perto de mim. Levante minha essência até o alto dessas fantasias abstratas. Preciso de luz. Eu quero o calor do fogo dos teus olhos deslizando pela minha pele. Procurando algum intervalo solto do meu tempo para nele se atirar livre, mergulhando profundo em meus tormentos noturnos, gelados. Grite meu nome, pois as palavras estão todas quebradas em letras caindo como gotas de lágrimas doloridas no telhado. Ao teu ouvido, em sussurros pausados, irei confessar alguns pesadelos que moram aqui. Sou metade gelo e tão logo estarei a um milhão de quilômetros de todos, perdida na margem dos universos, pois eles estão sentados na sala, esperando me levar pelos braços para o inferno das melodias mortas. A outra metade de mim queima lentamente na tua cama, mas assim como chamas iluminando tua face, tocando teus cabelos com pressa, destruindo tuas roupas, serei apenas cinzas pela manhã. E nada mais importa. Ao abrir suas pálpebras, já não estarei, já não serei, já não haverá mais nada além de um sonho qualquer..

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O vestido

Então, senhorita, vista aquele vestido da cor dos sonhos. Encubra seu rosto em puro mistério. Talvez, pense em algum salto alto, mas o abismo ainda está tão distante e sei que voltará para casa tocando os pés descobertos na terra úmida daquela última névoa do esquecimento. Escolha uma das inúmeras faces que guardo dentro do meu pensamento e são tuas e são muitas. Qual sorriso teu iluminará a noite repleta de memórias vazias e escuridão? Minha tarde estava cinza e eu deitei na grama, à beira da monotonia, sem nada a oferecer, nada a esperar. Logo, não haverá problema se eu estender minha mão até a tua e solidificar tua imagem em mim. Estou com a sede do mundo e todas as doses de café que já tomei durante a madrugada, e as tantas xícaras perdidas pela casa, ainda não me bastam. Estou tentando pacientemente pescar detalhes da fragilidade da tua sombra, mas em vão. Tudo é líquido. Tudo é volátil. Tudo é passageiro. O tudo hoje, amanhã será nada. Sentimentos não são relatos e laços não são contratos. Por isso, vamos embriagar nossas almas de conversas fáceis e confissões insignificantes, leves. Deixe a profundidade para quando abrir seus olhos na próxima manhã solitária. Teu vestido está além das cores indecifráveis, assim como meus olhos estão além da ausência de foco. Sorrir por algumas horas não irá nos privar do peso do choro contido. Nem mesmo nos prenderá, pois as grades são largas demais e ainda seremos livres..