terça-feira, 18 de janeiro de 2011

O vestido

Então, senhorita, vista aquele vestido da cor dos sonhos. Encubra seu rosto em puro mistério. Talvez, pense em algum salto alto, mas o abismo ainda está tão distante e sei que voltará para casa tocando os pés descobertos na terra úmida daquela última névoa do esquecimento. Escolha uma das inúmeras faces que guardo dentro do meu pensamento e são tuas e são muitas. Qual sorriso teu iluminará a noite repleta de memórias vazias e escuridão? Minha tarde estava cinza e eu deitei na grama, à beira da monotonia, sem nada a oferecer, nada a esperar. Logo, não haverá problema se eu estender minha mão até a tua e solidificar tua imagem em mim. Estou com a sede do mundo e todas as doses de café que já tomei durante a madrugada, e as tantas xícaras perdidas pela casa, ainda não me bastam. Estou tentando pacientemente pescar detalhes da fragilidade da tua sombra, mas em vão. Tudo é líquido. Tudo é volátil. Tudo é passageiro. O tudo hoje, amanhã será nada. Sentimentos não são relatos e laços não são contratos. Por isso, vamos embriagar nossas almas de conversas fáceis e confissões insignificantes, leves. Deixe a profundidade para quando abrir seus olhos na próxima manhã solitária. Teu vestido está além das cores indecifráveis, assim como meus olhos estão além da ausência de foco. Sorrir por algumas horas não irá nos privar do peso do choro contido. Nem mesmo nos prenderá, pois as grades são largas demais e ainda seremos livres..