Preciso de
uma palavra que me escapa como borboletas soltas no ar. Está em todo lugar e em
lugar algum e tudo que sinto é que preciso saber que ela realmente existe e
estará lá me esperando. Aqui é distante demais e espero o dia em que eu puder
vê-la e me atirar em seus braços para nunca mais voltar a este caótico
labirinto de concreto. Eu poderei te mostrar todos os mundos perdidos que você
atirou no mar do viver em troca desse caminho de asfalto coberto de placas em
que estão suas pegadas. Estou cruzando todas as milhas que conheço e cada
minuto mais rápido para fugir depois que percebi este mundo escapando entre
meus dedos e nada a ser feito, pois o céu já estava em pedaços quando o deixei
para trás. Você não viu? Noite passada eu assisti entre gritos e apelos
aflitos, a esperança morrendo e esse lugar estranho amanhecendo coberto de
fumaça e cinzas. Todo mundo está correndo tanto atrás de um tal objetivo
qualquer, não há mais para onde ir. E é devagar que o tempo vai escapando,
carregando nossas vidas em desespero, então continuo fugindo daquilo que nos
cega e sei que persiste o mesmo vazio na minha alma e na sua. Você quer tanto
que te aceitem e luta desse jeito insano todos os dias por dias melhores que
jamais chegam. Sabe que não é melhor ficar e ainda assim insiste em satisfazer
prazeres que não alcança. Ninguém faz do sentido questionamento e é
assim que as coisas são dentro de palavras que não querem dizer mais nada. O ar
desaparece e quando acordo no susto das madrugadas abandonadas é que lembro das
ideias que não são minhas e não são suas. Aquelas ideias de raízes profundas e
sem origem que nos ensinaram a levar conosco para onde quer que fossemos e
assim contagiaram o mundo. Quem te ensinou a fechar os olhos? Quem te ensinou a
esquecer de escolher teus próprios caminhos? Veja, nossos sonhos estão
desaparecendo dentro de uma ideia que não sei quem criou ou porque está entre
nós. Não posso te revelar quanto ainda irá durar a imaginação que te resta e
domina teu coração quando a pele em que habita sufoca e este lugar não
parece mais teu lar. A palavra não tem nome desde o dia em que me ensinaram
desconstruir meus pensamentos e esconder meus sentimentos atrás do muro da
ignorância. Por favor, não tenha medo quando te oferecer minha mão para te ensinar
a abrir os olhos.