Que pesado esse viver sobre cinzas, cortes, penas, pétalas
despedaçadas, rasgos, vírgulas de frases intermináveis. Parece não caber mais
em mim esse conto sem final. Neste labirinto de questões mal-resolvidas,
infinitas, esquecidas, não estamos sozinhos. Não é apenas nós procurando em últimos
vestígios o que restou de nossa identidade. Ainda ouço a harmonia sonora das
tuas palavras, mas não consigo mais decodificar seus segredos quase
indistintos. Escute quando eu falar que minha vida contida não era vida de
verdade até o encontrar da tua vida vazia naquele lugar. E dos teus sonhos fiz
meus sonhos e dezenas de outros planos que assisto agora em pedaços se desfazer
sobre as águas calmas de o misterioso pensar. Lá, onde o brilho intenso do teu
olhar queima ainda minhas lágrimas pelo fogo refletido da tua alma. Se hoje eu
cair na tua frente e não conseguir levantar, leve pra longe daqui todas as
nossas memórias. Pois não há luz aqui no fundo dos meus dias mais inacabáveis e
chuvosos. A parte que não encontro mais de mim ainda existe em você? Tento
encontrar abrigo seguro dentro da solidão, mas algo continua morrendo aqui
dentro cada vez que me sinto assim. Mais algumas horas e não me chame amanhã
pela manhã, estou perdida dentro desse labirinto do pesado viver de todos nós. Esse drama de constante
sofrer vem adoecendo a vida que ainda resta pra nós e nunca parece o bastante
para ir embora. Você não precisa de mim como eu preciso. Não quer o que eu
quero. Não enxerga as coisas que eu vejo e me assustam. Aquele meio de mim que
corta e aquele que é cortado, lavando o chão da consciência de sonhos perdidos
e despedaçados.
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