segunda-feira, 18 de outubro de 2010

Colisão

Não mais que de repente. Em alguma fração do tempo. Descubro em mim pensamentos indecifráveis, pesadelos inefáveis. Frases inteiras nuas, ocultas, sem palavras. Mudas. Eu. Embriagada na distorção da raiva. Tenho a visão escurecida e engasgada. Destruída por falácias despedaçadas. Engolindo o último grito contido dentro da alma. Em silêncio, suportando a doce tortura fria das memórias empoeiradas. Mergulhei tão fundo na busca desenfreada de respostas. Tantas vezes me perdi. Em vão. Não mais corri. Parei de súbito. Num susto. Num espasmo. No desespero, paralisei meus passos. Contive o fôlego. Desejei fechar os olhos exaustos. Os ponteiros se quebraram aos socos, congelados. As vozes de agonia interna se calaram. Cada ruído que atormentava os tímpanos desaparecia aos poucos, perdido no vazio do espaço. Apenas na pele ardia um leve, real, sincero toque. Eu vi no reflexo dos teus olhos o rumo de volta do inferno. Eu vi você acreditar em mim. E da lágrima aflita que corria em meu peito se fez valer um triste sorriso. Por um instante inconsciente, eu confiei em ti. E da hipocrisia, lenta nascia uma verdade quebrando o asfalto entre o caos dos espíritos. Persigo teus rascunhos insensatos, incorretos, vagos em meus próprios devaneios. Deito e em pensamentos tortos, rabisco versos sobre sentimentos tão incertos ainda não catalogados. Meus sonhos caem assim como aves sangrando, no céu, nuvens ao meio. Gostaria de te sorrir de volta, mas desaprendi como utilizar a alegria. Toda minha vida a nossa frente num rumo sem freios. Tenho me procurado em cidades abandonadas e em alguma dose pura de nostalgia. Mas, ao fim do dia, colocarei uma emoção no rosto e desafiarei tuas inúmeras faces. Sem saber teu nome, tocarei em teu sonho, teu gosto, teu som, tuas formas abstratas. Dúvidas nas perguntas. Rimas entre os dedos. Dança dos silêncios. Partilha de velhos segredos. Ilusões sobre teus pés. Corações atirados em papéis. Insônia nas minha noites longas. Tua luz em minhas manhãs cinzas. E além, iluminando as ruas da madrugada vazia. Na colisão repentina das nossas vidas.Te espero...

Um comentário:

  1. ^^.
    .."Persigo teus rascunhos insensatos, incorretos, vagos em meus próprios devaneios..." - Como se em cada verso poderia ter sim, alguma explicação, alguma brecha, como um pulo do gato no escuro. Procurando apenas na ilusão de que algum trecho seja escrito para alguém. Aquele que talvez não conheça e quiçá já esta em teus pensamentos.
    Maravilhoso, realmente nos dia de hoje precisava ler alguma coisa assim.

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