Se eu morresse, alguém lembraria que eu tive um blog?
Versos dentro do meu silêncio
quarta-feira, 26 de abril de 2017
terça-feira, 28 de maio de 2013
A gente cresce. É triste ser adulto
Eu lembro do meu rosto, da
minha pele, dos meus ossos e dos meus sonhos. Nos dias mais difíceis de sair da
cama, eu lembro que existo. Eu não gosto daqui e penso em te pedir pra ir
embora comigo, mas não sei pra onde ir e nenhum motivo que te fizesse fugir. Eu
lembro da minha infância solitária no meio do campo de flores amarelas. O mundo
não poderia ser melhor do que aquilo. O mundo não precisava ser. Eu me sentia
livre. Eu podia ser tudo o que eu desejasse. Não precisava de nada e de
ninguém. O céu colorido e as flores amarelas me bastavam. Eu sabia. A gente
cresce. É triste ser adulto. É triste crescer e ignorar as flores e o céu que
se torna cinza. Eu acreditava que a infância era cheia de medos e, veja bem, os
maiores monstros que vivem embaixo da minha cama são os de hoje em dia. A gente
finge demais e se importa com o que falam demais. Sem perceber que as pessoas
não cansam de falar e, muitas vezes, nem ao menos sabem o que estão dizendo. A
gente é chato e pensa no que é certo e o que é errado o tempo todo. Eu nem sei
quem inventou o certo e o errado. Nem sei por que tenho que acreditar em tudo
que me dizem. Teria te levado comigo pra deitar embaixo das nuvens no campo de
flores amarelas enquanto te contaria todos os meus sonhos esquecidos. Te levaria
comigo pra qualquer lugar. Se você estivesse na minha infância, eu não teria medo de pensar se você viria. Se gosta de mim. Se aceitaria. Se. Te pegaria pela mão e desafiaria todos os nossos medos. Te pegaria pela mão e te levaria comigo pra dentro do teu abraço. Mas a gente cresce. É triste ser adulto.
domingo, 17 de fevereiro de 2013
Você vai dizer sorrindo que o verão está indo embora
Você vai
dizer sorrindo que o verão está indo embora, pois sei que gosta do frio. Eu não
vou sorrir de volta, prefiro o calor, os dias de sol, a cerveja gelada. Mas não
consegui ficar triste pressentindo o frio que virá, porque penso em ti pra me
aquecer dentro de um abraço quente. A vida me ensinou que quem corre, tropeça e cai. Então,
vamos ir devagar enquanto o tempo nos carrega junto com ele. Quero que entenda
que eu posso ajudar na tua confusão, também. Não precisamos ter pressa. Eu não
tinha pra onde ir antes e já tinha até me acostumado a não ter direção. Então,
podemos caminhar junto com a brisa de outono que começa a surgir no final da
tarde. Posso segurar tua mão quando sentir que está caindo. Posso te emprestar
meu casaco se tiver frio. Posso te contar histórias pra não morrer de tédio. Posso
te lembrar todos os dias que foi esse sorriso que me fez ficar. Olha, quando eu
pedir pra que fique perto de mim, não pensa demais, apenas fica. Quando eu
precisar de distância, não tenha medo. Eu vou me afastar, mas sempre volto
assim que puder. Existem coisas que só resolvo comigo mesma. E se fosse pra ir
embora, eu não diria nada, apenas sairia pela porta. Não sei lidar com
despedidas. É difícil, eu sei. Tenta compreender só aquilo que puder alcançar
com os olhos e mais nada. Não se preocupa demais. Deixa o resto ir vindo
devagar com o calor das horas. Não consigo mais me esconder de você. Se eu
fechar os olhos pra te dar um beijo, não esqueça que tudo que mais quero no
mundo é guardar essa lembrança. Se deixasse os olhos abertos, eu fugiria. Muito
já fugi na vida, então perdoa minhas falhas e meu jeito todo errado. Não sei
direito o que se faz quando se quer ficar. O tempo muda tudo. Logo, não seremos
mais essas pessoas que estão sorrindo. Vamos aproveitar esses pequenos
momentos. Quando eu segurar tua mão e não disser nenhuma palavra. Apenas segura ela de
volta. Você vai dizer sorrindo que o verão está indo embora, pois eu sei que gosta do frio e eu irei com você.
domingo, 21 de outubro de 2012
O vazio do vazio
Minha
cabeça dói. Eu não quero mais fazer isso, eu penso. Eu não quero mais fazer
nada. Se tivesse escolha, eu não estaria aqui. Não estaria em lugar nenhum.
Fora de alcance de tudo e de todos. Flutuando no ar como uma folha seca de
outono. Fora de mim e fora de órbita. Se a vida não fosse apenas caminhar sem
rumo, eu não viveria. Se fosse apenas respirar para que tudo voltasse a sua
perfeita ordem, se fosse apenas respirar. Mas não é simples assim. Nunca foi. Ainda
tento seguir em frente daquele jeito que dizem que é o certo, mas tenho sempre
essa sensação de que continuo errando e afundando nesse vazio. Então, desconfio
das pessoas que acham que sabem definir o mundo em duas partes. Nesse conflito
das dualidades. Bem ou mal. Certo ou errado. Triste ou alegre. Doente ou
curado. Quando se tem apenas a solidão por perto, não importa muito saber a
distinção das partes. Isso não faz diferença. Pois há tantos pensamentos por trás
dessas palavras tão pequenas. Tantas entrelinhas que me sufocam em dias
intermináveis de setembro. Tanta síntese da síntese. Não sou do tipo que gosta
muito de palavras vazias ou que dizem pouco como essas que chovem a nossa volta.
Não sei o que fazer com elas nem onde guardá-las. Mantenho distância e tomo
fôlego para prosseguir pela estrada solitária. Gosto do abstrato subterrâneo
desse oceano de frases esquecidas e apagadas. Sempre vi o mundo tão maior em
minhas lentas imaginárias. Acreditei em algo que estava sempre mais distante,
mais inalcançável como as nuvens. Estive tentando tocar o silêncio com as duas
mãos e o horizonte com meus passos lentos. Procurei respostas durante tanto
tempo na fumaça que fui perdendo meu rosto em alguma esquina perdida. Gosto do complicado, do avesso, do contrário.
Não sei quanto tempo eu parei em frente dessas pessoas estranhas a minha volta e
desejei vê-las mudas. Ausência serena de sons. Ecos paralisados. Desapareço no
meio da multidão. Pessoas que não conseguem desmembrar o silêncio, não poderiam
ter direito de voz. Eu estou em qualquer lugar nesse instante desejando ir
embora. Me obrigo a permanecer como dizem que deve ser assim, mas minha mente
me desmancha e anseia pela fuga. Quem são eles que dizem? Me calo. Paraliso os
sentidos. Fecho e abro os olhos devagar. Todas as frases que eu já falei, não
falei, mudei de lugar, trouxe de volta, desejei jogar fora estão se afastando
de mim. Fiz das palavras as peças imperfeitas de um quebra-cabeça sem imagem. Me
pergunto, até quando andaria pelas calçadas e deixaria que tantos pedaços da
minha vida ficassem pelo caminho? Jogamos até o fim e não sei mais qual é o
jogo. De nada adiantou aquela carga de palavras que costurei pela estrada por onde
seus pés costumavam caminhar. Tive que seguir em frente. Partida ao meio. Aos
trancos e barrancos. Sangrando e cauterizando as feridas na pele desses tantos
espinhos. É assim, minha cabeça fica latejando pelas horas poucas e mal
dormidas das últimas noites. Minha mente desconectada daqui. Perco a noção de
tempo e espaço pelo cansaço da vida que carrego nos ombros dia após dia.
Acumulando pensamentos cinzentos e carregados de lembranças geladas. A memória
faz de nós o que tem que fazer. Reféns de si mesmos. Preenche suas lacunas da
forma como gostaríamos de ter feito ou não ter feito, ou desistido, ou reinventado
tudo. Mas se não fossem as folhas meio rasgadas e amareladas da memória, o que
seria da vida além de respirar e caminhar sem rumo? O vazio do vazio.
domingo, 23 de setembro de 2012
23
Porque ainda não alcancei minhas próprias palavras.
''Você precisa fazer alguma coisa, as pessoas dizem Qualquer coisa, por favor, as pessoas dizem. O que não dá é pra ficar assim. Nem que seja piorar, nem que seja enlouquecer. Olho o rosto das pessoas. Tem os ossos, daí tem a parte de dentro. Tem os olhos e tem o fundo dos olhos. Da boca saem esses sons. De repente alguém encosta em mim. Pra perguntar com o quentinho da mão se estou ouvindo e entendendo. Sorrio e torço pra pessoa ir embora. Torço pra alguém chegar, só pra torcer bem pouquinho por algo. Mas daí a pessoa começa a falar e torço pra pessoa ir embora. Não tem o que fazer, não tem o que dizer, não tem o que sentir. Sou uma ferida fechada. Sou uma hemorragia estancada. Tenho medo de deixar sair uma letra ou um som e, de repente, desmoronar. Quando toca uma música bonita, minha ironia assovia mais alto. Um assovio se melodia. Um assovio mecânico mas cuidadoso, como tomar banho ou colocar meias. Outro dia tentei chorar. Outro dia tentei abraçar meu travesseiro. Não acontece nada. Eu não consigo sofrer porque sofrer seria menos do que isso que sinto. Tentei falar. Convidei uma amiga pra jantar e tentei falar. Fiquei rouca, enjoada, até que a voz foi embora. Tentei aceitar o abraço da minha amiga, mas minha mão não conseguiu tocar nas costas dela. Não consigo ficar triste porque ficar triste é menos do que eu estou. Não consigo aceitar nenhum tipo de amor porque nenhum tipo de amor me parece do tamanho do buraco que eu me tornei. Se alguém me abraçar ou me der as mãos, vai cair solitário do outro lado de mim. Se eu pudesse usar uma metáfora, diria que abriram a janela do meu peito e tudo de bom saiu voando. Era macio existir. Agora eu piso seco no chão, como um robô que invadiu um planeta que já foi habitado por humanos. Mas eu não posso usar metáforas porque seria drama, seria dor, seria amor, seria poesia, seria uma tentativa de fazer algo. E tudo isso seria menos. Não briguei mais por você, porque ter você seria muito menos do que ter você. Não te liguei mais, porque ouvir sua voz nunca mais será como ouvir a sua voz. Não te escrevo porque nada mais tem o tamanho do que eu quero dizer. Nenhum sentimento chega perto do sentimento. Nenhum ódio ou saudade ou desespero é do tamanho do que eu sinto e que não tem nome. Não sei o nome porque isso que eu sinto agora chegou antes de eu saber o que é. Acabou antes do verbo. Ficou tudo no passado antes de ser qualquer coisa. Forço um pouco e penso que o nome é morte. Me sinto morta. Sinto o mundo morto. Mas se forço um pouco mais, tentando escrever o mais verdadeiramente possível, percebo que mesmo morte é muito pouco. Eu sem nome você. Eu sem nome nós. Eu sem nome o tempo todo. Eu sem nome profundamente. Eu sem nome pra sempre.'' - Tati Bernardi
quarta-feira, 5 de setembro de 2012
Abstinência - Parte 2
Foi
quando meu coração começou a afundar, minha respiração ficou cada vez mais
lenta e as palavras distantes que tudo começou a fazer sentido. Um estranho
sentido, mas verdadeiro. A verdade mais pura e simples, nunca é simples e nem
pura. Pensamentos que eu havia escondido de mim surgiram na fumaça e meu corpo
começou a reagir diante dos dias incessantes, onde acordar já era um puro tormento.
Eu te desejo o melhor e um caminho em que se sinta bem. Eu te desejo o mesmo
que espero pra mim e nada além. Quero que entenda que rancor e toda mágoa, o
tempo leva embora, deixando apenas cicatrizes. Não importa a dor que cause, no
final será apenas uma marca profunda na pele que lateja em dias úmidos. É
difícil porque não se trata das pessoas do resto do mundo, mas de você. Quando
lembro que existe um muro de Berlim a nos separar, dói. Não consegui te ver em
todas as perspectivas e você não me enxergou em todos os reflexos. Às vezes,
penso que fomos íntimos estranhos e, ainda sim, conseguimos ir tão longe em nós,
onde ninguém havia chegado antes. Quando tenho que lutar, eu sei bem de todos
os pesos que carrego e que ainda irei suportar, mas ter que assistir você
vestindo essa armadura feita contra mim, às vezes, é demais. Só isso. Esqueceu
de tudo? Penso em tantas coisas mais que ainda quero encontrar. Tantas estradas
que ainda desejo percorrer além do horizonte. Pois há essa imensidão diante os
nossos olhos e é tudo o que nos resta. Alguma hora o tempo trata de curar essas
dores que os copos cheios não resolvem. A
cada dia as palavras estão mais distante de mim e próximas de uma parte que não
enxergo desse oceano de esquecimento. Não consigo definir se ainda sigo
afundando ou se estou parada no meio do caminho entre o fundo e a margem dessas
águas profundas e transparentes demais. Permaneço exatamente como não queria estar, sozinha. Mas, bem no fundo, estamos todos tão sozinhos. Todo mundo reclamando e gritando por
dentro enquanto desmanchamos o mundo com um monte de sorrisos embriagados. É o
jeito. Alguém se defende. Será? Segue os dias fora de qualquer tipo de controle. Algum
deles vai servir pra alguma coisa. Afinal de contas, durante uma vida inteira o
que vale mesmo são aqueles pequenos momentos que se pode chamar de felicidade.
A gente só descobre isso depois que eles se vão. Tudo bem, eles aparecem de novo uma hora ou outra. No fundo, ninguém quer ser pedra. Acabar se apegando aos lugares mais duros que encontra dentro do coração só porque sabe que um dia ele já foi partido por ser tão frágil quanto vidro. Sabe que todo o vidro quebra e os cacos que permanecem podem ferir qualquer um que se aproxime demais. Toma cuidado pra que isso não aconteça. Cuida pra que ninguém te torne pedra, nem vidro despedaçado.
segunda-feira, 27 de agosto de 2012
Abstinência - Parte 1
Sei de coisas
que desejaria não saber. Não sei qual a coisa certa ou não acho que seja certa.
Tudo tem parecido tão errado ultimamente. Sem você. Essa metade de mim não
distingue ainda o que é certo e o que é errado. Eu sinto tanto e tanto parece
tão pouco agora diante de você. Não sei descrever exatamente o que sinto porque
nunca alcanço a verdadeira descrição. Tudo fica tão simplificado que chega a
ser deprimente. Não tenho parecido tão deprimida assim, eu acho. Sempre fui
muito séria e isso até você reclamava. Relaxa, não dá pra resolver as coisas
assim tão tensa. Finjo que não estou tensa e bebo. Eu não sei beber pouco,
pensar pouco, sonhar pouco. Não sei ser pouco e não sei se o que sou é muito ou
nada. Olha, passei tanto tempo pensando em você, em nós, em mim. Existe uma
hora em que todas as lamentações, mágoas, rancor vão ficando pra trás e o sol
vai nascendo bem devagar no horizonte. É possível começar a enxergar as coisas
que ainda estão por toda volta, pelo chão, pelas paredes, por todos os lugares.
Tua sombra começa a me aquecer e não mais causar tanto frio dentro de mim. Eu
só não queria que fosse assim, mas assim foi que aconteceu. Hoje, deitada ainda na cama, lembrei
de vezes que você literalmente me ferrou, me fazendo acreditar que a culpa era
minha e que o problema era eu. Sendo que você nunca fez muito esforço pra ser
alguém melhor e não digo alguém melhor pra mim e, sim, pra você mesmo. Se a
gente terminasse, eu já sabia exatamente quais seriam seus passos e veja bem,
mesmo sem qualquer informação sobre você, eu ainda sei. Eu te conheço de cima a
baixo, eu sei o que você pensa e sonha e deseja. Eu sou muito mais do que
qualquer pessoa poderia imaginar em ser por você. E eu sei que sempre vai saber
disso e não importa muito que finja que me odeia, me ignore, me despreze. Faça
como você achar melhor, mas quem te amou mesmo fui eu.
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