segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Ruínas

Veja só, admito que já fazem tantos dias que perdi entre as almofadas do sofá, o controle de meus sentidos e tenho assistido paralisada nas cenas repetidas, preto-e-branco e mudas o escorrer dos canais vagos de minhas fantasias. Tédio profundo, canso, fujo. Tão longe, passei a última madrugada observando, hipnotizada, ruínas incógnitas que se escondem logo após as montanhas geométricas. Sentada à beira do fogo, junto aos fantasmas, dialogando nostalgias. E a cada encontro violento e letal do movimento das ondas com as rochas, me sentia mais distante nas espumas, perdendo aos poucos aquilo que nem mesmo conhecia de mim mesma. A melancolia surgiu como fumaça cinzenta rindo em minha direção. Eu a vi no topo dos fragmentos de contos enterrados vivos e tão infinitos. Desprovidos de qualquer razão, mas sem ninguém parar um instante pra ouvir as cinzas. Apenas o ruído estridente das pedras e os gritos aflitos do vento ecoando alto em meus ouvidos e logo fugindo num deslizar entre as árvores em chamas. Em mesma melodia da chuva fina de acordes lúdicos em uma noite púrpura de primavera. Mas as estrelas estão mortas e não podem mais sentir nada. Eu sabia e gemi num sussurro quase inefável por elas e pelas marcas em meus punhos latejando os atropelamentos de fúria súbita provocados por velhas alucinações e sonhos destruídos. Continuo, seguindo ainda mais distante. Atirei o copo vazio contra os restos de parede em pé, para permitir a fusão das cores penetrando nos cacos de milhões de tons distintos espalhados pelo chão, moldando faróis no mar de cosmos. Em meio a este manto psicodélico, agarrei firme a única certeza sobrevivente em mim: - Há dias difíceis até de respirar, mas eles nascem, ferem e morrem. Fim. Então, nas curvas simétricas do horizonte, tão de repente e sem choro algum, o sol abre devagar os olhos. E a luz vai beijando lentamente as ruínas..

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